domingo, 29 de março de 2015

Camarim: Menos atriz (?)

     As Aulas na ETA começaram no início desse mês, mas por motivos diversos -dentre os quais, um deles é o trabalho que, por ora, ainda é o que me sustenta (para quem não sabe, sou professora também) e outro que diz respeito a um grande projeto de ordem pessoal (que tb se relaciona ao primeiro motivo citado, já que preciso de dinheiro para realizá-lo) (ficou confuso, né? espero que não... bom, mas, basicamente, o que importa é essa próxima frase ->)- eu acabei perdendo praticamente as duas primeiras semanas de aulas e um exercício cênico maravilhoso do qual adoraria ter participado, até pq tinha parte minha no texto: Beatriz, foi um exercício cênico lindíssimo e muito comentado na Escola, dirigido pelo meu professor, Toni Edson, com vários dos meus colegas no elenco e partes de um conto, Amor, escrito por mim no texto final do exercício, além de trechos de um texto de Jorge de Lima, da música ciranda da bailarina, de Chico Buarque e partindo de outra música desse mesmo artista: Beatriz. Sentiram como deve ter sido lindo? E a honra de ter meu texto junto dos de artistas desse peso? Pois é, mas eu não estive lá. Espero conseguir algum vídeo para postar aqui, especialmente da parte onde meu texto aparece dito pelos meus colegas, se possível. Mas gostaria de ter estado lá tb.
     O fato é que não estar lá por ter priorizado (ainda que eu tenha sido forçada a priorizar, já que preciso de dinheiro, como todos nós) outras funções me fez sentir um pouco como se eu estivesse me traindo. Como se estivesse sucumbindo a esse sistema cruel que nos rege. Mas, por mais que eu queira, ainda não vivo só da minha arte e, para ser mais verdadeira e crua, o que ganho com ela não dá pra pagar quase nenhuma das minhas contas e, por mais sonhadoras que sejam as minhas asas de artista, eu faço parte de um mundo que é regido pelas leis de um sistema que gira em torno do dinheiro. Cruel, mas, verdade. Fazer o quê? Então me perdoei um pouco por isso.
     Mas ainda me senti meio que me traindo.
     O artista tem que se esforçar, estar em trabalho constante, nunca deve se reconhecer como perfeito ou pronto. É aprendiz constante. E o ator não é diferente. Deve estar em constante trabalho de observação, leitura e corpo. Duas semanas de atraso em relação aos meus colegas me fez sentir realmente atrasada, fiquei me perguntando se realmente estava me esforçando como deveria para ter aquilo que sempre quis. Entendo que tenho que trabalhar sim e me sustentar sim, mas não quero que isso me atrapalhe em ser a atriz que sonho ser um dia. E para ser essa atriz, ainda há muito suor a ser derramado.
     

     Então essa postagem é mais um lembrete para mim mesma para que eu não esqueça jamais de nunca ser medíocre na minha arte, de que tudo que eu faça seja visceral. Mas para isso devo me lembrar tb que o trabalho para alcançar esse objetivo seja de corpo e alma. E aí sim eu serei cada vez mais atriz. Cada vez mais a melhor atriz que eu puder. E a atriz de hoje será melhor que a de ontem e nem de longe tão boa quanto a de amanhã. Mas o caminho de tijolos amarelos para isso tem trabalho em lugar dos tijolinhos.



Louryne Simões
      

2 comentários:

  1. Louryne essa é uma questão que acompanha grande parte de nós que desejamos encontrar a sustentabilidade com o nosso trabalho como artistas. Como se dedicar inteiramente e pagar as contas no fim do mês?
    Tenho certeza que não ter participado da apresentação não a fez menos atriz, pois o resultado final é uma amostra grátis de todo um perfume que foi construído ao longo dos ensaios. E você estava lá no dia da apresentação. Aquele resultado também e parte de você. O que você aprendeu e partilhou ao longo dos ensaios com certeza te ensinaram muito e te fizeram muito mais atriz do que você já é.
    Desejo um lindo caminho em sua carreira. Lendo teu texto vejo que você está sempre em busca de ser melhor. Isso é importante é bonito.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bruno, que prazer imenso te-lo por aqui novamente! *-*
      Sim, vc esta certo. Não sou mesmo menos atriz por ter faltado o exercício cenico (no qual, como muito bem vc pontuou, eu estava presente de outras formas). Acredito que so nos tornamos menos quando deixamos de nos dedicar, de nos explorar e nisso eu continuo firme e forte. Acredito, inclusive, que minha inquietação e muito valida, não é? Pois e ela que me permite não parar, não me conformar e estar sempre buscando ser cada vez melhor, característica que acho primordial em um artista. E, embora, o sistema não nos seja gentil, estamos aqui ainda, nossa arte vive em nos e de nos para o mundo e continuara crescendo *-*

      Desejo tb a vc o mais lindo dos caminhos que nossa arte tão linda pode oferecer e que durante todo ele estejamos sempre trocando figurinhas desse jeito, pois estou adorando *-*.

      Excluir