sábado, 9 de agosto de 2014

Camarim: Alice no país do dinheiro

     Ontem meu dia foi uma montanha russa. Não vou entrar em detalhes, mas vou dizer apenas que me fez pensar sobre uma coisa que volta e meia volta à minha cabeça: Esse mundo é terreno demais. E o artista é um ser com asas. Esse mundo não é para o artista. Simplesmente, porque quer a todo instante fixá-lo no chão  e o artista quer é voar... Eu quero voar. Não consigo me contentar com o chão. Não consigo me sentir feliz de verdade se não estiver me relacionando com arte. Tenho que estar atuando ou escrevendo ou aprendendo sobre fotografia ou cinema. E na verdade, na verdade só consigo ficar feliz feliz mesmo se estiver fazendo tudo isso junto (como agora). 
       Mas isso me sai muito caro.
     Não falo pelo dinheiro não. Sinceramente já gastei fortunas com arte. Já deixei de comprar roupas e sapatos mesmo quando estava precisando para comprar um violão (que tá lá em casa e eu até hoje não sei tocar direito), comprei uma gaita que foi bem carinha esse ano (e estou feliz da vida aprendendo a tocá-la). Quando dos meus primeiros salários (como bolsista da universidade), ganhando 400 reais, ainda assim pagava metade desse salário no ballet (fora os outros gastos como roupa, sapatilhas. Amo ballet, mas é bem caro). Estou bem inclinada a comprar uma filmadora para finalmente começar a brincar de fazer meus próprios vídeos. E apesar de querer gastar todo o dinheiro que não tenho com o máximo de arte que eu puder, também já larguei empregos só pra poder dançar ballet e fazer teatro ou estudar cinema. Eu faria muito mais por arte. Eu faria muito mais pra viver de arte.
       Viver de arte... 
        Um sonho tão distante em um mundo onde o dinheiro é mais importante que o sonho e a felicidade, não é? Não... Aqui vale mais rechear a conta que o coração. Sabe o que é pior? As pessoas ainda entendem como se fosse tudo a mesma coisa. Como se felicidade fosse sinônimo de emprego fixo e carteira assinada. Mesmo que esse emprego nem seja bom e que no fim do mês nem as contas estejam pagas nem seu coração preenchido. Já a algum tempo comecei a me questionar sobre a diferença entre estar bem e ser feliz. Hoje em dia todo mundo se conformou em estar bem (que acaba sendo quase sempre a mesma coisa que estar confortável financeiramente, sabe). Eu quero é ser feliz, não consigo me conformar puramente em "estar bem". Especialmente, se esse "estar bem" significar "tenho dinheiro".
       Sou mesmo uma Poliana, Dorothy. Sou Alice. E ando procurando o país das maravilhas em um mundo onde o dinheiro é o centro. Por vezes até encontro. Por vezes... Porque, no geral, esse não é um mundo bom para Alices. E ainda assim  não consigo querer mudar. Talvez o frescor da juventude me guarde toda essa força e vontade, mas morro de medo de que o tempo apague as cores que eu ainda consigo ver no mundo. Morro de medo que essa Alice se transforme em só mais uma nota no país do dinheiro. Porque até ela precisa de dinheiro.

Louryne Simões

P.S: Levei uns dois dias para terminar esse texto, não propriamente por dificuldade para terminá-lo, mas pelas obrigações do dia-a-dia. Algumas que justamente tem a ver com o centro desse mundo. Acabou sendo bom, porque pude ler esse texto maravilhoso que super tem a ver com tudo que eu disse.

P.S2: E aqui um vídeo com uma música que considero super minha e que super tem a ver com tudo que eu disse. Só pra compartilhar... 



P.S 3: Sobre isso, tenho um amigo poeta que escreveu um poema que diz tudo o que quero dizer nos meus momentos de fúria pelas feridas desse sistema. Lá vai:

Vou engravatar-me em terno sepulcral, esquecer quem um dia pensei que talvez fosse, sonhar apenas o que me comandam, desafinar minhas linhas, entardecer meus tons e argilar-me em cinza ser que se concreta. engarrafar-me em todos meu mal bebidos, virar a rolha dos destonados, não mais crepuscular meus sorrisos, tão pouco florir meu olhar, e muito menos ainda colorir de ladrilhos amarelos, ou de qualquer cor que seja, meu cantarolar. em verdade vos minto: nem cantarolar mais vou! Amanhecer para mim será apenas acordar, passarinho apenas bicho, vento apenas ciência e borboleta... nem mais sei do que se trata. Vou ser a reta em linha, descurvando minhas estrelas, "adultecendo" todo meu desviar. Ar...? este não mais salamandrear em mim. apenas me manterá em zumbilância, esticando as reticências finais dos meus tantos finais que um fim nunca encontra, ou encanta, quem é que sabe? A partir desde ex.crito serei apenas um Zé... Qualquer, em nascido nome pautado certificadamente apenas, número metafisicado em pessoa, escritorizando-me em olhos não brilhantes. Em formal busca viverei o então, faculdadeando-me em social homem que de mim nada diz.

*Tattu

Vale a pena dar uma passada pelo blog dele porque ele tem textos incríveis. Clique aqui.